html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> É FARTAR, VILANAGEM: UMA MODESTA PROPOSTA

Sunday, November 13, 2005

UMA MODESTA PROPOSTA

"Brasil já fez reforma agrária - dos outros. Muitos dos imigrantes que vieram no século dezanove estavam, nos seus países, na mesma situação dos actuais sem-terra no Brasil. Eram os excedentes de uma estrutura fundiária perversa, sem uma estrutura industrial que os absorvesse. Itália, Alemanha, Portugal, etc, fizeram a sua reforma com a nossa terra, mas não podemos esperar que nos devolvam o favor. Não existem outros brasis no mundo para receber os sem-terra, já que este está ocupado. Se houvesse, poderíamos incluí-los na nossa pauta de exportações. Depois dos ciclos do café etc., o ciclo dos desesperados. Só teríamos de cuidar para que este ciclo não repetisse os outros.
Fomos os maiores produtores de açúcar do mundo. Não somos mais. O que sobrou do ciclo do açúcar foram usineiros vivendo até hoje de subsídios mas não exportando açúcar.Já produzimos borracha como ninguém. Não produzimos mais.Depois veio o café. Abastecíamos o mundo inteiro de café, sem concorrência. Isso também acabou.Depois veio a bossa-nova. Dominamos o mercado mundial até os bateristas americanos aprenderem a batida. Hoje não precisam mais de nós.A lambada parecia que ia nos redimir. Os franceses a encamparam, depois a esqueceram.
Hoje exportamos jogadores de futebol, modelos gaúchas e soja. Poderíamos exportar desesperados. A produção não para de crescer.
Mas como não há mercado para eles, deveria-se pensar numa alternativa mais radical. Há uns trezentos anos o escritor Jonathan Swift sugeriu aos irlandeses que comessem seus bébés. Ajudaria a diminuir a fome e ao mesmo tempo resolveria o problema da superpopulação no país. No mesmo espírito, e já que a nossa estrutura fundiária não só não muda como partiu para o revide com cobertura da Justiça, no campo eles são supérfluos e na cidade eles não têm empregos e não há outra saída, os sem-terra deveriam ser convencidos a se suicidar. O suicidio colectivo seria um gesto patriótico que daria paz aos campos, sossego aos latifundiários e alívio ao Governo. E, ainda por cima, um pedaço de terra para cada um."
LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO
Como alguém disse: "AS VERDADES SÃO COMO PUNHAIS..."

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