html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> É FARTAR, VILANAGEM: O ZÉ RECO

Sunday, February 26, 2006

O ZÉ RECO

"Um reco, na festa inventiva de sílabas bem abertas dos linguajares tradicionais, é um porco. Atribuir nomes de animais às famílias das aldeias é um fenómeno tão antigo como os nossos 900 anos de vida portuguesa.
Raramente se sabe a origem destes patronímicos, mas existe sempre uma. No tempo da I República, quando estudar a cultura popular estava na ordem do dia, publicaram-se vários tratados sobre o assunto, hoje quase todos levados pelo vento impiedoso da história.
A família dos Recos ainda hoje existe na aldeia nortenha de Massada da Beira, a mesma que tem a família dos machos com direito a estátua e tudo.
Os Recos não se fizeram estátua. Mantiveram-se mais modestos quanto ao seu destino onomástico.
Foi no seio desta família discreta sobre as suas raízes que nasceu um menino chamado José Sócrates. Logicamente, para os habitantes, o menino Zé Reco.
Mas então, se José Sócrates nasceu em Massada da Beira no seio da família dos Recos, porque é que insiste em dizer-nos que é da Covilhã ? Muito bem, poderá ter lá estudado, passado lá grande parte da sua infância, qualquer coisa. Mas quantas pessoas não são naturais de Moçambique, ou de Angola, e, devido ao caos da descolonização, só lá viveram aos 3 ou 4 anos ? Pode ter sido curto, mas foi onde nasceram. Sobre a sua origem, se forem rigorosas, dirão sempre que são de Moçambique ou de Angola. Da mesma forma, deveria Sócrates dizer-nos que é de Massada da Beira. A menos que a sua mãe tenha ido expressamente tê-lo à Covilhã, seja por melhores serviços hospitalares, seja por medo daquela alcunha dos recos. Talvez a família, antevendo já um grande futuro político ao rapaz, não quisesse ver o Zé Reco no poder. Mas isto é tão piroso, é
tão alimentador do cinzentismo em que vivemos. É tão desrespeitador da beleza da tradição oral. Este homem traz consigo uma coisa de que nem todos podem gabar-se, um passado suficientemente antigo para que algum acontecimento entretanto esquecido lhe tenha dado uma alcunha à família. É quase como um título de nobreza. E que faz ele ? Ora, varre-o para debaixo do tapete. E lá se vai o colorido que poderia ter trazido ao seu Governo".

CLARA PINTO CORREIA
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