A MATERNIDADE EM MIRANDELA (e noutras cidades do interior)

O que havia sido anunciado, confirmou-se: Mirandela vai perder a sua maternidade por não se justificar em termos economicistas.

Esta é uma decisão com que os poderes constituidos se vão confrontar nos próximos tempos e, pensamos nós, será o princípio dum assumir de atitudes cívicas que porá muita coisa em causa.

Senão vejamos:

O arrastar das populações para o litoral é um fenómeno que desde há 50/60 anos se vem progressivamente sucedendo, quer por falta de emprego no interior, quer pela queda da agricultura, quer pela alteração "dirigida" das mentalidades com um contributo muito significativo da Comunicação Social.

Hoje em dia, o filho do barbeiro, já não quer seguir a profissão do pai, o filho do agricultor não quer muito logicamente continuar a trabalhar a terra. E porquê?

Durante centenas de anos era assim e parece que era o mais correcto, já que a paz social era uma realidade (concreta ou simulada, tanto importa) e ninguém pode dizer que as populações eram mais infelizes. E o que é que acontece hoje em dia ? O Estado, sempre o Estado, aumenta a escolaridade obrigatória, disciplina (em termos economicistas, mais uma vez) o número de escolas nas aldeias e outros aglomerados populacionais, tentando preparar os adolescentes para um mundo que não está ali, mas sim no litoral. É lógico e só um cego do Governo não vê como tudo está interligado.

Se tudo continuar dentro da mesma linha política, o interior vai ser progressivamente esvaziado, agora as maternidades e os hospitais, ontem as linhas de caminho de ferro, depois os CTTs (parece que já iniciaram o ajustamento), depois uma ou outra empresa média que ainda subsiste e as escolas... é o que se vai lendo nas notícias envergonhadas da nossa imprensa.

Por acaso já alguém se lembrou de algumas acções levadas a cabo pelo Ministério da Ambiente e por associações de protecção animal em relação à criação de condições para as aves ou animais em perigo de extinção poderem reproduzir-se ? A comparação pode não ser muito feliz, mas quando se encerram maternidades do interior, como é o caso de Mirandela e outras, parece que não estamos a defender em relação aos humanos a mesma política.

Lisboa que se cuide. Aquela boa gente do interior saberá responder na altura própria a todas as injustiças.